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Dengue

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Não sabia que malandro também apanha dengue. Apanha. Está a correr bem, sintomas ligeiros...

Puxar ou chupar

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(Mú como eu) Um homem magro passa a enorme carroça atrelado, animal de carga, um mú sobe, inclinado e triste. Assalta-me o coração um desejo irreprimível, de empurrar, ajudá-lo a vencera subida. Olho ao meu redor e estou só o esforço do homem a ninguém ofende, sinto-me sozinho, camusiano na minha paixão pelo macho. Sou feito da matéria do mundo mas, estou mais perto do que puxa do que dos que chupam. Sou feito da matéria do mundo ou sou dum material diferente dos que sentados a meu lado sorvem os mesmos sucos finos? Belo Horizonte, 10 de Março de 2012

Mú como eu

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(Puxar ou chupar) Passo a passo avança o carro com gosto de sangue na boca, a juventude deixada à pouco a velhice a um passo curto. Todos te ignoram menos eu, levanto-me, ajudo-te, outro pobre animal de carga empurrando a mesma carroça. Todos te ignoram menos eu olho-te com lágrimas e empurro contigo. Estranha sociedade fizemos nós para acabarmos rodeados de anões. Belo Horizonte, 10 de Março de 2012

Peregrinos

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Vejo o cortejo dos peregrinos os de sempre com novas caras cansados, velhos escravos livres serviçais frescos de novos senhores. Junto-me-lhes convicto sobreviver apenas crisálida de mopane regressando à terra. Alguns ficam pelas estalagens no caminho, em troca de nada tratam os cavalos, cozinham educam os filho do novo amo. Estarei nos primeiros, uma gamela vazia a servir de prato palha seca de leito. Levo a velha chibata disfarçada, cerzida ao peito, sem uso algum, gesto vão d'antiga e inútil dignidade. Por bolor verde  e saudade cinza de quando vez passo-lhe pano seco e fantasio banquetes com meninas vadias em poses indignas das filhas do dono. Lisboa, 18 de Dezembro de 2011

(sem título)

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Sinto o caos, a derradeira das parcas tecendo-me lentamente a envoltura da alma. Finalmente um pouco de sossego no doce refluxo do Mundo. Excluo-me do jogo de sombras. Visto-me em nome do belo, recebo em troca farrapos de frio fealdade em troncos escuros. Mas mesmo quando caio nunca sei se o escuro dos olhos me salvará realmente de mim e a cama me resgata à dor. No lugar do gozo da vida foi colocada outra coisa, tenaz como a chuva de Outono, que me vive colada ao corpo. Lisboa, 16 de Dezembro de 2011

Coral

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Os poetas são desperdícios dos deuses poeira de coral e velhas estrelas junções improváveis e desnecessárias (o desejo afoga em agonia os sois de ontem). Ecos de luz distante "comme si elle étais aussi poussière d’étoiles" e pudesse sera outra ao cerrar dos olhos cansados. "Elle aussi" na última paragem antes dos dias solitários que virão. É preciso saber dizer o indizível o que não se pode nem pensar. Lisboa, 26 de Novembro de 2011

Sofia

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à minha avó Sofia Senhora, obrigado pelo resgate das águas, pelas tardes de Verão à sombra das mimosas; pelos cuidados e o sorriso fácil pelo menino adoptado à vida. Senhora, obrigado por seres sem razão para ser, a correcção possível do Mundo quando se espera apenas um inferno. Senhora, obrigado por teres sido a outra mãe, eterna enquanto houver dias e noites, e os meus olhos que viste, virem não serás esquecida, vives em mim. Lisboa, 08 de Maio de 2011

Deixemo-nos de queixumes

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acordei com um sol magnífico, um sol de Verão de São Martinho. o corpo continua a falir progressivamente mas poupo-vos à descrição dessa falência  porque ele está aqui para ser gasto e a vida para ser vivida. ao sair recordei-me que tenho hoje um jantar de caserna. voltarei a rever os meus companheiros, subalternos e superiores, dos meus quase 7 anos de tropa. em particular reverei o cabo Vieira, o meu grande amigo Vieira que me ofereceu a sua amizade de forma simples e séria como sempre viveu e vive a vida. Portugal está em crise e os meus actuais colegas verão os vencimentos reduzidos em 8%  mas o Vieira não, ele nada tem a temer da redução de salários da função pública apesar de ser funcionário público: ganha menos de 1000 euros, a mulher ganha também  menos de 1000 euros, têm 2 filhos e o dinheiro nunca chega até ao fim do mês; o Vieira não se queixa, cerra os dentes e trabalha, algum familiar há-de ajudar, algum biscate extra há-de aparecer sinceramente já me chat...