windows of perfection

anoitece em Arambol
a memória entrega-me ramos de flores
que deixei de merecer há muito tempo atrás,
pétalas cor de cobre e espuma.

(em mim a piedade
reencarna em noite.)

quantos lugares percorreremos até encontrar o vale de
                                                               Shangri-La?]
quantas cidades santas atulhadas de homens?
quantos hospícios cheios de santos,
até que tu nos venhas finalmente mostrar o caminho?

durante séculos vivemos na cela da virtude
víamos o sol pelas grades da janela da perfeição
jamais bronzeávamos a pele
era-nos interdito desfrutar o calor do sol.
o melhor que fizemos foi tomar alguma cor no rosto cansado de
                                                                      contemplar Deus.]
agora que somos finalmente livres já não amamos o sol,
virámos-nos antes para Oriente, na noite da nossa miséria
em busca das fórmulas dos negadores da vida.
contorcemos o corpo em posses bizarras;
no lugar de nos estendermos na areia quente deixando a mente
                                                    sonhar com uma Terra farta,]
meditamos, jejuamos e fustigamos novamente a nossa carne
a mesma carne triste que antes via o sol pelas grades da janela da
                                                                                   perfeição.]

Arambol, 24 de Abril de 2010

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