Demócrito de Abdera - o grande riso

Democritus, por Hendrick ter Brugghen, 1628
"... uma ética hedonista, essa ética reside na declaração da alegria (euthymía) como finalidade da moral, ao que Demócrito de Abdera acrescenta a utilidade como critério de bem."

"... uma franca e clara metafísica da esterilidade, Demócrito convida a não procriar: é impossível educar com sucesso. É uma tarefa que está acima das possibilidade de qualquer um. Ninguém consegue cumprir correctamente com ela. E uma educação frustrada, sobretudo quando se trata dos próprios filhos, é uma verdadeira fonte de chatices! (...) Para aqueles que sentem de forma mais aguda os pruridos familiares, o filosofo aconselha a adopção de um filho de outrem..."

"Não temer nada nem ninguém, nem aos deuses nem aos senhores, não empreender nenhuma tarefa que esteja acima das suas forças e dos seus meios; conhecer os seus limites e apontar ao realizável; não perder a alma em prazeres cuja satisfação leva seguramente a insatisfação; desejar o prazer da comunidade feliz consigo mesmo; não procriar nem conceber; não se comprometer nunca com os assuntos da política; não se deixar dominar pelas paixões e pulsões que desequilibram; não desejar mais do que se tem, nem afundar-se em desejos impossíveis de satisfazer; aceder às alegrias que oferece a existência na medida em que aumentem a adesão ao próprio ser; definir o útil e o prejudicial mediante a satisfação e o mal estar; esforçar-se por expulsar de si os sofrimentos rebeldes; tender à alegria..., eis aqui as regras práticas de um hedonismo que propõe um prazer delicado, subtil, elegante: o prazer supremo da autonomia, no sentido etimológico do termo. Então pode fazer a sua aparição o riso. O grande riso libertador (...) essa capacidade de rir-se do mundo tal como ele é. Só riem os que levam o mundo a sério, precisamente porque o levam a sério. Tenhamos cuidado como da peste com os filósofos incapazes de rir..."
in, As sabedorias da antiguidade, Contra-história da filosofia, tomo I,  de Michel Onfray

Comentários

Mensagens populares deste blogue

As mulheres de Camus ( II )

Doce vadia

O grilo e a vontade