Violência no Jardim ( II )

Continua a minha eterna surpresa perante a alma feminina...

Os resultados de 20 estudos publicados na revista Psychology Today mostram que entre 31% a 57% das mulheres fantasiam com serem forçadas a ter sexo. “Mulheres a sonharem com cenas de violação é um terreno onde se cruza desconfortavelmente o eros com a política”, diz Daniel Bergner, que está a trabalhar num livro sobre desejo feminino que vai ser publicado no próximo ano. “É um terreno onde a realidade não coincide com aquilo que dizemos.”

Os investigadores e psicólogos com quem falou para escrever o artigo O que querem as mulheres , que o New York Times publicou em 2009, pareceram-lhe relutantes em usar a expressão “fantasia de violação”. E, em ensaios académicos, a ideia deixa até nervosas e a desculparem-se as mulheres que a relatam.

Por definição, “fantasias” são algo que não se controla. Mas parecem estar a dizer-nos alguma coisa sobre as mulheres que todas preferiam esconder. Uma das fontes de Bergner preferiu chamar-lhes “fantasias da submissão”; outro disse “é o querer estar para além da vontade, para além do raciocínio”.

As feministas ficam perplexas com o nosso contínuo investimento nestas fantasias na esfera do romance, neste desejo residual de se ser controlada ou dominada. Têm vindo publicamente denunciar a quantidade de mulheres poderosas, bem sucedidas e independentes que se deixam enredar em fantasias (e realidade, claro, mas isso é outra história) de submissão. Estas mulheres “foram educadas a acreditar que sexo e dominação são sinónimos”, escreve Gloria Steinem, e que, de uma vez por todas, temos de “separar o que é sexo do que é agressão”. Mas talvez sexo e agressão não possam ou, melhor, não devam ser separados.

Também não têm sido poucas as opinadoras de esquerda que perguntam: “Foi para isto que lutámos?” Mas é claro que estas lutas sempre foram irrelevantes para a vida íntima. Quando perguntaram à brilhante pensadora feminista Simone de Beauvoir se a sua subjugação a Jean-Paul Sartre na sua vida pessoal contrariava as teorias feministas que professava, respondeu: “Bem, estou-me nas tintas. Lamento desapontar todas as feministas, mas posso dizer que é pena que muitas delas vivam só da teoria em vez da vida real.”
Também Daphne Merkin, jornalista da New Yorker, na sua controversa e reveladora meditação sobre a sua própria obsessão com o espancamento, especulou sobre a tensão entre a sua identidade como “mulher poderosa” e os seus desejos por punições sexuais infantilizadas. “Igualdade entre homens e mulheres, ou tão-somente o seu pretexto, dá imenso trabalho e pode nem ser o caminho mais seguro para a excitação sexual.”

Será talvez inconveniente para o feminismo que a imaginação erótica não se submeta à política, (...)

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