I Amélia Amélia tem pela frente a longa noite do soldado de sentinela, a noite da enfermeira. Lá fora está a beleza do meio da Primavera, mas aqui cruzam-se dores, misérias e esperanças desrazoáveis. Há anos que é enfermeira do exército. Cada noite, Amélia faz a rotina que lhe ensinaram: receber o turno, ler os relatórios de enfermagem, dar a medicação, trocar umas palavras com os soldados internados e preparar a medicação seguinte. Mais tarde, na quietude da madrugada fará os seus relatórios. Pelas 2h00 da madrugada o silêncio do hospital é entrecortado por algum gemido ou murmúrio do paciente do quarto 113. Amélia tem medo de pensar. Na madrugada não tem como não se deixar tomar pela sua alma. Um a um, os seus fantasmas apresentam-se, sem serem convidados. Um deles, um velho autoritário e sábio diz-lhe: - Eu conheço-te bem, disfarçaste-te mas não enganas ninguém: nasceste puta, para servir e ser usada. Arranjaste este trabalho para disfarçares os teus impulso ...