Vamos pinar?

Os seres humanos insistem em defender as suas fantasias evitando  contrastá-las com a realidade. Uma das fantasias femininas é a de que gostam de homens sinceros. Nada mais errado, as mulheres ensinam os homens a mentir e exigem que os homens mintam. Até hoje não encontrei uma mulher que não desejasse ser enganada!

Há uns dias uma amiga repetia-me a lengalenga do costume, que os homens são todos iguais, uns mentirosos, bla bla bla, não recordo se chegou à lamentação do costume:
- Eu só quero que não me enganem, que falem verdade!
Responder-lhe que não, que ela detesta os homens que falam verdade, adiantaria alguma coisa?
Não adiantaria, as mulheres (e os homens) não gostam de homens que as contrariem nas suas auto-representações fantasiosas!
Mas apeteceu-me dizer:
- "Deu meu nena"*, que mal te conheces!
Deixei correr a conversa. Mais tarde falou-se novamente de homens e de engates em sites da “especialidade”. Disse-me:
- As coisas que os homens me escrevem, um deste dias um escreveu-me “Queres pinar?”, imagina.
- Que respondeste?
- Sim quero, mas não contigo!
- Esse foi o único que foi sincero e foi precisamente da sinceridade que não gostaste. Então porque insistes em pensar que gostas de homens sinceros?
Esta conversa fez-me pensar na minha vida (que não deve diferir muito da dos outros homens) e em como, de chapada em chapada, fui ensinado a deixar de ser sincero. É fácil, à chapada, ensinar  um homem a mentir!
Imagine-se um tipo com fome, vê um palmier recheado no balcão de uma pastelaria, acerca-se da empregada e pede:
- Se faz favor, um palmier e uma meia de leite.
E ouve como resposta:
- O menino está parvo?
Ele percebe que algo que devia ter corrido bem afinal correu mal, foi sério e sincero e sai com a mesma fome com que entrou…
No dia seguinte, passa por outra pastelaria e vê outro delicioso palmier recheado, vai repetir o pedido anterior?
Claro que não, e diz:
- Se faz favor, um abade de priscos e uma orxata!
- Desculpe mas nem temos abades de priscos nem orxatas!
- Não?! Uma pastelaria tão fina e com uma empregada tão simpática e eficiente não me pode satisfazer o desejo. Que pena.
- Gostava muito de o satisfazer mas não temos o que deseja. Se puder servir-lhe outra coisa, temos bolos diversos, decerto gostará de algum. Temos meias de leite, chás.
- Olhe, é isso mesmo, traga-me um palmier e uma meia de leite!
A cara da empregada abre-se num delicioso sorriso e toda contente diz:
- Com certeza, pode sentar-se que já lhe levo o serviço à mesa.
Cada vez que leio perfis idiotas de mulheres que dizem gostar de homens sinceros (a maioria) o meu corpo ri mas a minha alma chora.

P.S.: Entenderam ou querem que faça um boneco – aliás dava uma bela tira de BD?

Comentários

  1. Não é necessariamente este caso especifico que faz terminar a incoerência humana. Não, por certo não! Creio que (e por isso tomo como certeza, como realidade) que o ser humano é desprovido de valores morais na sua essência. Creio também que é no encontro com o outro, que esta espécime, tão peculiar que é a minha, define regras balizadoras para que o bem-estar de ambos (eu/outro) possa coexistir. Ao fim de milénios a construir tais regras balizadoras, estas já estão entranhadas na forma de estar da sociedade, e os indivíduos tomam-nas como leis próprias, individuais. Uma ilusão egocêntrica por certo. Assim sendo, regresso ao seu texto, referindo o caso feminino como uma ilusão da mulher daquilo que lhe foi imposto pela sociedade como lei moral, mas o que deseja realmente é o que lhe é imposto pelo seu ser talvez animal e por isso humano é o desejo incessante de um macho.

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