As mulheres de Camus ( II )

Quando no futuro se falar em D. Juan vai-se falar em Albert Camus. Principalmente pela vida que viveu mas também pelo capítulo que dedica ao Burlador de Sevilha em O mito de Sísifo.
Camus não é um sedutor qualquer, ele é o que é perdoado facilmente pelas suas conquistas: o grande sedutor. As mulheres perdoam aos grandes sedutores e apenas se sentem usadas pelos medíocres.
Para quem não gosta de sedutores deixo o link do artigo do Guardian, aqui . Acho-o mal escrito e cheio de incorreções mas vai acalmar os corações das senhoras e senhores que acham que o amor é lindo se for um homem e uma mulher, somente.
Fica de seguida uma recente entrevista da filha, Catherine Camus, a um jornal catalão, Las mujeres de Camus e um texto sobre a biografia de Oliver Todd, “Camus and his Women”.

As mulheres de Camus

texto original de  Héctor Aguilar Camín

"Nos últimos dias de Dezembro de 1959 o escritor Albert Camus, que havia ganho o prémio Nobel dois anos antes, escreveu 4 cartas de urgência amorosa.
Preparava o seu regreso a Paris depois de umas férias com a sua esposa e os seus filhos na casa da família em Lourmarin, onde se havia refugiado para começar a escrita de um projecto tão ambicioso como Guerra e paz, de Tolstoi.
Em 29 de Dezembro escreveu: “Esta terrível separação fez-nos pelo menos sentir como nunca a constante necessidade que temos um do outro”.
Em 30 de Dezembro escreveu: “Só para dizer-te que chego Terça-Feira de carro. Faz-me tão feliz a ideia de ver-te outra vez que me rio enquanto escrevo”.
Em 31 de Dezembro escreveu: “Vejo-te na Terça-Feira, meu amor, e já te beijo antecipadamente e te bendigo desde o fundo do meu coração”.
Uma carta mais estabelecia as datas de um encontro prometido em Nova York.
O notável destas cartas de fervor extraconjugal é que estavam dirigidas não a uma mas sim a quatro mulheres diferentes.
A primeira, uma jovem pintora dinamarquesa, chamada Mi, a quem Camus havia seduzido no Café de Fiore. A segunda, uma actriz e directora de teatro de vanguarda, Catherine Sellers, cujo marido faria mais tarde para a BBC o papel masculino da adaptação cinematográfica de A queda [autor: Albert Camus]. A terceira, María Casares, a actriz espanhola consagrada em França, com quem Camus mantinha uma relação amorosa há já dezasseis anos.
A viagem planeada a Nova York era para encontrar Patricia Blake, uma editora da revista Vogue que Camus tinha conhecido e conquistado numa viajem aos Estados Unidos em 1946.
Camus não foi a nenhum destes encontros. No dia 2 de Janeiro de 1960 dirigia-se a eles rumo a París, a bordo do potente carro Facel Vega do seu amigo Michel Gallimard, que conduzia com Camus ao lado, e a sua esposa, sua filha e cão no banco traseiro.
Depois de jantar e dormir em Sens, no dia seguinte, no quilómetro 25 de estrada de Paris, o Facel Vega derrapou, saiu da estrada, bateu numa árvore, depois bateu noutra e terminou a sua deriva. As mulheres saíram ilesas, Michel ficou mortalmente ferido, Camus morreu imediatamente. O cão desapareceu.
Quando morreu, Camus tenía 46 anos, estava na plenitude do seu talento literário e da sua expansão vital, a vida entrava e saía em grandes avenidas por ele, quando o rostro do absurdo, ao que havia olhado sem titubear toda a sua vida, o surpreendeu no caminho."

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